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O Maior Abandonado

Atualizado: 13 de mai.

Por Marcos Sousa

Senti-me muito honrado ao ser convidado para contribuir com esta plataforma, mas em 5 minutos passou de honra para preocupação e, finalmente, desespero. A questão era, diante de tantos especialistas como eu poderia efetivamente contribuir? Para cada área de conhecimento que permeia o ambiente da tecnologia da informação, segurança, infraestrutura, gerenciamento de processos e projetos, gestão de pessoas, metodologias, as mais diversas, Telecom, IA, automação, ferramentas, dentre tantas outras, há aqui dezenas de especialistas que podem trazer muito mais conhecimento, com muito mais domínio, de forma mais aprofundada e sem dúvidas mais cheios de certezas do que eu.  




Assim, estou convicto, que a maior contribuição seja com as dúvidas, com as incertezas, as preocupações, inseguranças, conflitos e realizações que invadem o dia a dia deste “maior abandonado” o gestor de TI, ou, como preferem os mais chiques, o CIO. São elementos com os quais convivi, e ainda convivo, em quase 40 anos trabalhando na área dos quais 20 anos com gestor.  


Sem mais delongas, vamos entender a questão. Existem duas frases que aprendi com meus pais que resumem um pouco esta questão. A do meu pai, “trabalhador é igual a prostituta, se não estiver circulando e bem arrumada ninguém pega”. Da minha mãe, “só quem sabe como vai um casamento é o casal ao fechar a porta do quarto”. Estes são os grandes desafios do gestor. Colocar-se diante do mercado, dos seus pares, dos seus empregadores, sua equipe, de modo a despertar a atenção e, por outro lado, enfrentar a dura realidade do dia a dia, da limitação do orçamento, da sua incapacidade de absorver todo o conhecimento oferecido diariamente, da demanda por formações e certificações, da intensa demanda da organização, da diversidade e complexidade da equipe, da decisão entre soluções ideais e as possíveis, dentre tantas outras, e sem ser dramático, muitas vezes se sentir sozinho. 


Qual a boa notícia em relação a isso? É que tem solução. E qual seria? Não faço a menor ideia! Tenho apenas algumas pistas que me ajudam e podem também ser úteis a você, e que estão disponíveis no mundo dos seres humanos normais (não dos coachs quânticos ou de qualquer modelo). Aqui é importante deixar claro que o objetivo deste e de futuros artigos não é finalizar a questão, mas suscitar troca de ideias e experiências, pois é impossível definir uma única solução. Motivo? O que todos repetem e parecem não acreditar: as pessoas, as organizações nos seus propósitos e tamanhos, os acionistas, as culturas, a formação das pessoas são diferentes. Não é à toa que os gurus da solução apresentam como o primeiro passo “mudar a cultura”, ou seja, deixe de ser o que você é faça aquilo que se adequa a solução. Assim, nenê, é muito fácil. 


Parte da mudança, que pretendo apresentar a partir de exemplos pessoais, é filosófica no sentido de como nos posicionamos diante da vida e das pessoas. Portanto extrapole para a sua realidade e inclua suas especificidades, mas tenho certeza de que o princípio é válido. Cito duas mudanças que entendo fundamentais e espero que outras contribuições sejam dadas para transformar este monólogo em diálogo. Vamos nós. 


Primeira mudança. Depois de anos estudando e aplicando processos, metodologias, adequando a equipe, me adequando, cheguei a “brilhante” conclusão de que nem sempre eu sou o culpado das minhas limitações. Há demandas que estão acima da minha capacidade de entrega, não porque não sei o que fazer, mas porque não há recursos, porque é impossível entregar determinadas soluções sem o servidor adequado, ou desenvolver um sistema sem desenvolvedores. Então, meu amigo e minha amiga, saia da adolescência e pare de achar que pode tomar todas e não ter ressaca. Pode parecer uma conclusão óbvia, mas ao entender/aceitar isso, saí de uma pressão autoimposta e mudei o meu comportamento junto a gestão e aos pares. É importante, ou melhor, é imprescindível, não esquecer que é importante estudar, conhecer, experimentar e se conformar que vai errar.  


Em resumo se conheça, se capacite e não permita que coloquem nas suas costas uma responsabilidade que não é sua. Você não é o responsável pelas limitações da organização nem pela maturidade do acionista. Responsabilidade é fundamental na vida, mas chegar a ponto de se esconder de baixo da mesa vomitando em função da pressão, como vi acontecer, é estupidez.  


Segunda mudança. Trabalhei 20 anos em uma empresa de engenharia e demorei a entender o que é um engenheiro de obra de infraestrutura. O cara precisa executar um empreendimento mantendo um orçamento que não foi dado por ele, com um projeto que não participou, as vezes ainda em elaboração, articular fornecedores diversos, com uma fiscalização intensa, e ainda ser o responsável legal por qualquer problema que possa derivar deste caos. Quando entendi e procurei minimizar estes problemas respeito e alianças foram construídos.  


Não quer dizer que o engenheiro, o operador logístico, a área comercial, o time de operação sejam perfeitos, mas todos têm demandas e problemas legítimos. Você está cansado ou cansada de ouvir “é preciso conhecer o negócio”?  Isso é conhecer o negócio. No caso acima, não precisei elaborar traços de concreto nem romper corpos de prova, só entender o que o outro faz. Assim, respeite as pessoas, e que fique claro que ser educado e respeitar são coisas diferentes, e perpassa as hierarquias. 


Estas descobertas acima me ajudaram, e talvez, só talvez, possam lhe ajudar, mas o mais duro deste processo, diariamente em construção, é a disputa comigo mesmo. Qual caminho tomar? Como me manter empregável? Qual a tendência da tecnologia? Como manter minha equipe? O fornecedor só quer me matar? Qual o certificado que preciso? Será que tenho idade para aprender? Este último era problema antes do Viagra.  


São os temas acima, dentre outros, que gostaria de conversar aqui. E sendo mais otimista, é possível sim encontrar soluções para boa parte deles, sendo a chave identificar corretamente o problema. Por exemplo, o problema do desperdício do papel está na falta de controle ou na falta de uma impressora com senha?  Acredite, não são a mesma coisa e certamente dão percepções diferentes da eficiência do gestor. Você quer ser ninja ou resolver a questão? Esta discussão só é possível responder com uma abordagem honesta, senão seguimos nos enganando. 


Siga o conselho do meu pai: circule e esteja linda (estude, procure com calma entender os movimentos), em algum momento alguém lhe pega. Mas, como dizia minha mãe, ao fechar a porta do quarto seja honesto e honesta com você, não é vergonhoso é o início de uma nova mudança. Afinal tudo muda e não há como evitar. Só o que é eterno é o casamento de Reginaldo Rossi com uma cerveja gelada. 

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